Claranet Portugal vai contratar mais 100 pessoas e defende que “temos que eliminar o papel da Administração Pública”

O presidente executivo da Claranet Portugal diz, em entrevista à Lusa, que espera contratar 100 pessoas até final do ano e que a faturação no ano fiscal que termina em junho deverá atingir 210 milhões de euros.

“No total do ano deveremos contratar cerca de 100 colaboradores”, avança António Miguel Ferreira, sendo que metade será no primeiro semestre.

No entanto, contratar colaboradores neste setor é um desafio. “Há uma escassez de profissionais no mercado” e “as multinacionais que se estão a estabelecer em Portugal também aumentam a procura e a oferta não tem aumentado”, o que faz com que os custos do trabalho cresçam, “o que por si só é positivo”, já que ganham mais e aumentam o poder de compra, diz.

Mas “coloca muitas dificuldades a empresas como nós em encontrar profissionais para continuarem o seu crescimento”, admite.

Atualmente, a Claranet Portugal conta com cerca de 800 colaboradores.

“Neste momento temos mais desafios na área de entrega de serviços do que propriamente na área de venda de soluções, temos felizmente uma procura crescente, temos interesse de clientes em contratar a Claranet a prestar serviços nas diferentes áreas”, mas “temos que dosear essa atividade para termos a certeza de que temos sempre capacidade de entrega”, prossegue.

Isto “porque a última coisa que queremos é defraudar as expectativas dos clientes que nos contrataram”, mas “se pudéssemos contratar mais, contratávamos mais”, assevera António Miguel Ferreira, que também é responsável pelos mercados de Espanha e Brasil.

“Nós estamos a trabalhar em duas vertentes para resolver este problema, esperando que no longo prazo as faculdades possam produzir mais recursos humanos qualificados, mas é um caminho para os próximos cinco, seis, sete anos”, refere.

Primeiro, “abrir outros escritórios fora de Lisboa e Porto, ou seja, ter outras bases onde as pessoas possam estar quando não estão em casa, nomeadamente vamos aumentar o escritório de Viseu onde a Bizdirect [comprada no ano passado] já estava”, aponta.

O chamado centro de competências digitais de Viseu “vai ser alargado, estamos a olhar para outras regiões do país onde possamos abrir um escritório, regiões mais do interior, Norte, Alentejo, Centro”, adianta o presidente executivo.

Por outro, “também estamos na nossa operação no Brasil a fazer o mesmo, a criar um centro de competências digitais fora da região de São Paulo onde também esperamos poder ter profissionais dedicados à atividade da Claranet em Portugal, neste caso em trabalho remoto, mas dentro do próprio grupo”.

O ano fiscal da tecnológica termina em junho e António Miguel Ferreira estima uma “faturação de cerca de 210 milhões de euros”, sendo que no ano anterior o valor foi de 130 milhões de euros, mas não é comparável porque não tinha aquisições.

Em junho do ano passado, a Claranet Portugal comprou a Bizdirect e, em setembro, a OutScope, “foram duas aquisições neste ano fiscal, já não aconteciam aquisições desde 2017”, sublinha.

Olhando para o período de cinco anos, entre 2017 e 2022, “temos um crescimento anual de 20% se incluir aquisições e crescimento orgânico, e, “se retirarmos as aquisições, o nosso crescimento orgânico foi de 12% ao ano”, destaca o responsável.

Este crescimento de 12% sem aquisições coloca a Claranet Portugal a crescer “acima do mercado”, o qual tem progredido entre 3% a 4% ao ano.

António Miguel Ferreira explica este crescimento acima do mercado por duas razões: “Porque somos mais competitivos, inovadores do que a média dos nossos concorrentes, mas também porque estamos no lado certo do IT [tecnologias de informação]”.

O responsável explica que há áreas do mercado que “não estão a crescer”, apontando que o investimento em infraestrutura, equipamentos “está estagnado”. Por outro lado, “há partes do mercado que estão em crescimento maior”, como são os casos da ‘cloud’ e “mais ainda na área da cibersegurança”.

Agora, “há uma área emergente nos últimos anos que é a área de dados”, destaca, salientando que a tecnológica tem uma aposta nessas áreas que “estão em ritmo de crescimento mais elevado”.

Ou seja, “estamos no IT onde as empresas estão a investir mais e estamos progressivamente a sair do IT onde as empresas estão a investir menos”.

O grupo Claranet está presente em oito mercados, sete na Europa e o Brasil (onde entrou em 2016). 

“Portugal representa cerca de um terço do volume de negócios do grupo e cerca de 12% do EBITDA [resultado antes de impostos, juros, depreciações e amortizações] do grupo”, refere, quando questionado sobre o peso do mercado português.

O gestor tem a responsabilidade do mercado de Espanha desde 2019, o qual conta com um volume de negócios de 20 milhões de euros, e o Brasil, desde 2016, cuja faturação ronda os 40 milhões de euros neste momento.

Relativamente à mudança da sede da Claranet Portugal para o Hub Criativo do Beato, em Lisboa, António Miguel Ferreira aponta “outubro” como data prevista, depois de as obras terminarem em setembro.

Questionado sobre novas aquisições, o gestor diz que, a acontecer, só em 2023.

“É pouco provável que durante este ano venhamos a adquirir uma outra empresa”, mas “já estamos a trabalhar em algumas oportunidades, nomeadamente em duas frentes”, afirma.

“Num caso já estamos em fase de negociação com uma empresa e num outro a identificar as empresas que fazem ‘fit’ com aquilo que nós pretendemos, isto fará com que provavelmente haja uma nova aquisição mas só em 2023, não em 2022”, acrescenta.

Atualmente, “o foco já não é escala, já não procuramos empresas muito grandes, procuramos empresas de pequena e média dimensão que acrescentem alguma coisa de novo ao nosso portefólio”.

Relativamente a investimentos este ano, além da nova sede, a Claranet Portugal pretende acelerar a inovação através da Claranet Labs.

A Claranet Portugal tem seis áreas de negócio, das quais três são essencialmente serviços que a empresa presta aos clientes, e as outras três “são mais transacionais” em que entrega tecnologia que foi desenvolvida por fabricantes terceiros.

“A nossa estratégia é o crescimento nas áreas de serviços”, salienta, apontando a ‘cloud’.

Esta “tem duas pernas, uma que é as nossas próprias plataformas de ‘cloud'” e a segunda são “as ‘clouds’ públicas, em particular a Azure, da Microsoft, e depois a Amazon Web Services e Google, que também são nossos parceiros”, diz.

“Na ‘cloud’ nós gerimos aplicações e dados críticos para os nossos clientes e esta tem um peso bastante grande dentro dos serviços, a segunda área que começámos a investir em 2018 em Portugal é a cibersegurança”, que é uma “área mais pequena”, acrescenta.

Desde janeiro, a Claranet Portugal passou a ter uma nova área que é de ‘data & AI’, de dados e inteligência artificial, que pretende que venha a ter um crescimento.

“Temos que eliminar o papel da Administração Pública”

O presidente executivo da Claranet Portugal defende que é preciso “eliminar o papel da Administração Pública” e considera que “a obrigatoriedade de o Estado contratar através da assinatura digital” é uma medida “muitíssimo importante”.

Dois anos depois da pandemia “ainda chega papel para assinarmos e rubricarmos nos cantinhos”, critica António Miguel Ferreira.

Questionado enquanto gestor — e tendo em conta que o futuro Governo irá tomar posse em breve — sobre que medidas considera serem necessárias para o setor, no âmbito da digitalização, aponta perentoriamente a eliminação do papel.

“Ainda continuamos a trabalhar muito com papel desnecessariamente, as assinaturas digitais ainda têm de evoluir”, salienta, acrescentando que “a obrigatoriedade de o Estado contratar através de assinatura digital é uma medida que”, enquanto gestor, “seria muitíssimo importante” e não só no momento da contratação.

Se a assinatura for digital, “obrigatoriamente todo o processo na sequência, desde o concurso à contratação, depois à execução dos próprios serviços, tenderá a ser também digital”, aponta.

“Temos que eliminar o papel da Administração Pública e ainda falta um caminho a percorrer”, insiste, dando o exemplo do Brasil, onde consegue “lidar com a Administração Pública por meios exclusivamente digitais”.

Em Portugal, “o Simplex deu um grande avanço, partimos na frente e agora parece que ficámos estagnados e eu não consigo lidar com a Administração Pública só por meios exclusivamente digitais”, lamenta.

António Miguel Ferreira recorda que na passada terça-feira foi divulgado “que a Comissão Europeia se preparava para investigar a utilização da ‘cloud’ [nuvem] nos serviços públicos, em geral na Europa, para garantir que os dados estão protegidos, que se está a cumprir o RGPD [Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados]” e a legislação em vigor.

O Comité Europeu para a Proteção de Dados (CEPD) anunciou em 15 de fevereiro o início de uma ação coordenada de supervisão, que envolve 22 autoridades de proteção do Espaço Económico Europeu (EEE), incluindo a Autoridade Europeia de Proteção de Dados (AEPD), “as quais nos próximos meses vão investigar como as entidades públicas estão a usar os serviços baseados em ‘cloud'”, de acordo com informação da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD).

Aliás, a CNPD “participa na primeira ação coordenada de supervisão” do CEPD para investigar a utilização de serviços baseados na computação em nuvem (‘cloud’) pelo setor público.

“Acho muito bem, creio que isto nunca terá sido feito a uma escala grande, mas o Estado [português] ainda usa muito pouco a ‘cloud'”, salienta.

“Ainda se consome muito IT no Estado em Portugal, o Estado é uma espécie de uma âncora e ainda não está muito na ‘cloud'”, lamenta.

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