Mauro Correia é versátil. Quando trabalhou na Ford, ajudou a criar o projeto Amazon, que incluía a fábrica de Camaçari (BA) e o EcoSport. Depois, passou por Volkswagen, Nokia, Semp Toshiba, Metalfrio e a fabricante de moda íntima Scalina.
Ingressou na Caoa em 2014 e há cinco anos é CEO da empresa que controla as operações da Chery no País. O grupo brasileiro tem fábricas em Jacareí (SP) e Anápolis (GO), faz veículos da marca chinesa e da Hyundai, da qual também é importador oficial, assim como da japonesa Subaru. No dia 30 de dezembro, o executivo, que está fazendo um MBA em agronegócio, recebeu o Estadão na sede da Caoa, em São Paulo.
Como foi o desempenho da Caoa em 2021?
Foi muito bom. A marca Caoa Chery cresceu 100% em vendas e o market share vai fechar em 2%. Sofremos pouco com a falta de componentes. Também crescemos em vendas nas lojas. De janeiro a novembro, foram 95 mil carros. Fizemos do limão uma limonada. No início da pandemia, em 2020, fechamos fábricas e lojas por decreto. Tivemos de aprender a viver nessa nova realidade. Conseguimos ficar em home office sem percalços. Estávamos muito bem preparados para isso. Evidentemente, o negócio foi afetado. Mas 2021 foi bem melhor que 2020.
Há alguma decisão que o sr. mudaria?
Tomamos decisões corretas em 2020 e 2021, como proteger o caixa e os empregos. Tínhamos de manter a máquina rodando e responsabilidades com nossos funcionários. Em 2020, decidimos manter os investimentos e o lançamento de novos produtos. Em meio ao pico da pandemia, lançamos o (sedã) Arrizo 6 Pro e (SUV de sete lugares) Tiggo 8, que foi um sucesso. Em 2021, lançamos o Tiggo 3X Pro e o Tiggo 7 Pro (SUVs). O grupo se uniu mais. Para tomar decisões corretas, é preciso ouvir todo o grupo. Vamos errar? Muito! Vamos continuar errando? Normal, somos seres humanos. Mas devemos aprender com nossos erros.
Então o investimento de R$ 1,5 bilhão anunciado no fim de 2020 está mantido?
Sim. Lançamos novos carros, mexemos nas fábricas, abrimos lojas e estamos investindo fortemente em publicidade. Vamos lançar mais carros em 2022 já no primeiro trimestre e teremos novidades em eletrificação. Infelizmente, sofremos uma grande perda em 2021, que foi a morte do doutor Carlos Alberto, fundador do grupo. Ele havia profissionalizado a empresa, mas a pessoa dele era um ícone para todos nós. Em outras empresas em que trabalhei, quando eu dizia que iríamos contratar, era comum ouvir “Mais gente para quê?” O dr. Carlos dizia: “Que maravilha! Estamos gerando riqueza, empregos.” Parte desse investimento criou mais mil empregos em Anápolis e Jacareí (SP). Estamos gerando riqueza para o País e crescendo como marca nacional, que também era um sonho do dr. Carlos. A Caoa Chery já está entre as dez maiores do País. É um motivo de orgulho para todos os funcionários, para a família do dr. Carlos e para todos nós, brasileiros.
O que o governo tem de fazer para fomentar o setor?
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
A polarização tem de acabar. Não critico nenhum governo. As empresas têm de trabalhar e se adequar, independente do tipo de governo. Outro ponto importante é a diminuição da interferência. Não faz sentido o governo dizer que o carro tem de ser elétrico, híbrido ou a combustão. Seu papel deveria ser o de legislar sobre as emissões. Cada empresa tem de ser livre para criar a tecnologia que atenda aquele objetivo. O Brasil é rico em conhecimento sobre carros flex. Podemos ter híbridos flex, por exemplo. Há motores a combustão mais eficientes que equivalentes elétricos, se considerarmos toda a cadeia de produção. Também é preciso melhorar o equilíbrio entre exportação e importação, trazer mais dólares e estabilizar a inflação. Outro ponto muito importante é que não podemos ser apenas produtores e vendedores. Temos de ser detentores do conhecimento sobre as tecnologias.
Qual tecnologia deve prevalecer no Brasil?
A eletrificação veio para ficar. A grande questão é como é gerada a energia que vai ser usada nesses veículos. O Brasil tem as mais variadas e limpas formas de geração de eletricidade do mundo. Então, porque estamos queimando combustível se temos fontes eólicas e fotovoltaicas? Concordo com o Botelho (Besaliel Botelho, que acaba de deixar a presidência da Bosch) quando ele diz que é preciso descarbonizar, e não, necessariamente, eletrificar. O Márcio Afonso (ex-CEO da fábrica da Caoa Chery em Jacareí e novo vice-presidente do grupo) vem desenvolvendo pesquisas com as universidades estadual e federal de Goiás em biocombustíveis. Estamos indo muito bem e já temos algumas patentes. O Brasil desenvolveu a tecnologia flex. O Pablo (Pablo Di Si, chairman executivo da VW América Latina) não é um dinossauro (como chegou a ser chamado por defender a tecnologia flexível). Ele está no caminho certo e eu o admiro por isso. Não controlamos a natureza, mas dá para ajustar a plantação de cana. O agronegócio no Brasil é muito produtivo e eficiente.
A Caoa pretende avançar para outros mercados?
Sim, e já fizemos uma experiência. Exportamos para o Paraguai e estávamos estudando o Uruguai, mas primeiro precisamos consolidar o mercado brasileiro. Somos uma empresa familiar, de capital fechado. Eu brinco que nosso headquarters (sede) fica na Suécia, que é o nome da rua onde mora a família do doutor Carlos. Não precisamos bater na porta de nenhum outro país para pedir dinheiro. Mas temos de fazer as coisas com os pés no chão. A Caoa Chery cresceu 100% em 2021 e em 2022 deve crescer 50%. Quando compramos 50% da fábrica da Chery, em Jacareí, e criamos a Caoa Cherry (em 2017), as vendas eram de 3 mil carros. No primeiro ano, saltaram para 10 mil. O único período em que não crescemos foi de 2020 para 2021. Depois de consolidar o Brasil, vamos começar a buscar mercados vizinhos e outros países com os quais o Brasil tem acordos bilaterais, como o México.
Note: This article have been indexed to our site. We do not claim legitimacy, ownership or copyright of any of the content above. To see the article at original source Click Here