Presidente do Turcomenistão quer fechar a Porta do Inferno

A Porta do Inferno da vida real não possui nenhum letreiro escrito “lasciate ogni speranza, voi ch’entrate“, mas nem por isso deixa de ser um lugar visualmente intimidador. Localizada ao norte do Turcomenistão, a Cratera de Darvaza, que recebeu o nome do povoado mais próximo, é um gigantesco buraco que queima gás metano continuamente há décadas.

Ninguém sabe explicar como a cratera se formou, nem como ela começou a queimar, mas é fato que o atual presidente do país não gosta da Porta do Inferno ser o principal ponto turístico do Turcomenistão, e vem tentando fechá-lo desde 2010.

Detalhe de

Detalhe de “A Porta do Inferno” de Gustave Doré, da série de artes produzidas para a edição ilustrada de A Divina Comédia, de Dante Alighieri (Crédito: domínio público)

O Turcomenistão, antigo país-satélite da União Soviética, possui a 5ª maior reserva de gás natural do planeta, ficando atrás apenas da Rússia, Irã, Qatar e Estados Unidos, que reviu o número real de suas reservas em 2020 (a título de comparação, o Brasil ocupa a 33ª posição da lista), mas uma das origens da Porta do Inferno não envolvia gás em um primeiro lugar, e sim petróleo.

A bem da verdade, ninguém sabe ao certo como o buraco surgiu ou quando começou a pegar fogo. A teoria mais conhecida diz que em 1971, engenheiros soviéticos identificaram o campo próximo ao vilarejo de Darvaza, no deserto de Karakum, como uma região propícia para extração de petróleo, e começaram a perfurar o solo, para avaliar quanto óleo havia e poderia ser extraído.

Para azar dos envolvidos, as operações atingiram um bolsão de gás natural, que colapsou o solo e formou a cratera, liberando uma quantidade absurda de metano no ar, em uma concentração que não era facilmente dissipada. Além de extremamente inflamável, tóxico e letal, o gás é um componente do Efeito Estufa muito mais potente (negativamente falando) do que o dióxido de carbono.

A teoria se baseia na velha prática dos soviéticos de varrer os fracassos para debaixo do tapete, como nos casos do uso de ogivas nucleares para abrir lagos e apagar incêndios. No sentido prático, mesmo com a Cratera de Darvaza produzindo quatro vezes mais metano do que a Suíça consome anualmente, a URSS como um todo não precisava dessa reserva, graças aos campos russos. Assim, a solução teria sido incendiar um dos três sumidouros abertos pela erosão, na esperança de que o gás se esgotasse “em algumas semanas”.

E a Porta do Inferno está queimando desde então, sem dar o menor sinal do esgotamento de suas reservas.

Cratera de Darvaza, no Turcomenistão, está queimando gás metano de forma ininterrupta há décadas (Crédito: Tormod Sandtorv/Flickr)

Cratera de Darvaza, no Turcomenistão, está queimando gás metano de forma ininterrupta há décadas (Crédito: Tormod Sandtorv/Flickr)

A Cratera de Darvaza é hoje um dos principais pontos turísticos do Turcomenistão, que não é de qualquer forma o principal destino de viajantes (em 2019, o país recebeu apenas 14.438 visitantes, segundo dados oficiais), mas esse tipo de atenção não agrada o presidente Gurbanguly Berdymukhamedov, que nunca gostou do buraco flamejante.

No poder desde 2007, o chefe do executivo deu ainda em 2010 uma primeira declaração para reunir esforços de modo a extinguir o fogo e fechar a cratera, citando que a Porta do Inferno causa prejuízos econômicos, com a queima contínua de gás natural que poderia ser aproveitado, e ambientais, com o lançamento de mais CO2 na atmosfera, mesmo sendo menos pior do que metano, claro.

Em 2013, Berdymukhamedov mudou de ideia, e criou uma reserva natural compreendendo boa parte do deserto de Karakum, onde a cratera está localizada, a fim de incentivar o turismo; em 2018, ele apareceu na TV estatal (sim, há um culto à personalidade em torno do presidente e não há imprensa livre no país, como você deve ter imaginado) fazendo manobras em um carro de rally próximo da borda da Porta do Inferno, para dissipar rumores de que ele havia morrido.

Só que agora, muito provavelmente porque não há mais como explorar a imagem da Cratera de Darvaza para melhorar a sua própria, o presidente Berdymukhamedov está retomando os planos para fechar o buraco.

Em um pronunciamento veiculado na TV estatal, Berdymukhamedov disse que a Porta do Inferno “afeta negativamente o meio ambiente e a saúde das pessoas que vivem próximas” ao local, e que o país “está perdendo recursos naturais valiosos, que poderiam ser revertidos em uma receita significativa para uso de melhorias do bem-estar de nosso povo”.

O presidente deu instruções a oficiais do governo para “encontrarem uma solução” a fim de apagar o fogo, o que deve incluir selar o buraco e converter a reserva em uma fonte de gás natural utilizável, a fim de gerar recursos para a nação. Se vai dar certo ou não, só vendo.

Fonte: CNN, DW, France24.com

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