Taco Bell e a aposta astronômica de US$400 milhões

Quando a gente ouve o nome Taco Bell lembra no máximo de restaurantes chiques, ao menos segundo o excelente documentário futurista O Demolidor, com Silvester Stallone. Espaço, com certeza não é algo que a gente associe ao nome, mas ambos possuem uma ligação no mínimo inusitada.

No futuro todos os restaurantes serào Taco Belll (Crédito: Taco Bell)

A historinha de hoje tem a ver com propaganda, algo que as agências espaciais não gostam muito, mas de vez em quando são forçadas a aceitar, afinal de constas os boletos precisam ser pagos. Infelizmente espaço é caro, então poucos anunciantes topam pagar os custos desse tipo de propaganda.

Um raro exemplo foi a Pizza Hut, que em 1999 pagou para colocar sua logomarca em um foguete Proton russo, e em 2000 pagou para enviar uma pizza para os astronautas na então pristina Estação Espacial Internacional.

Mais raro ainda foi o comercial de 1997, do leite israelense Tnuva, filmado na estação espacial russa Mir. Foi o primeiro comercial filmado no espaço, e até hoje é um dos únicos.

A Mir, aliás, é o foco dessa história da Taco Bell.

Lançada em 1986, ela sobreviveu até 1998, mas além de estar totalmente obsoleta, apesar dos esforços heróicos de manutenção. O fim da União Soviética e a reaproximação com os EUA tornaram desnecessário manter uma estação própria, e os russos estavam numa pindaíba tão braba que não só aceitavam turistas espaciais e jabás em geral, como até a sala de controle da missão tinha placas com patrocinadores.

Calcinha na mão dinheiro no chão, ou algo assim. (Crédito: NASA)

Os EUA, mesmo com bolsos muito mais profundos, viram os custos da Estação Espacial Internacional indo pro espaço, e quando a Inglaterra explicou que não tinha tanto dinheiro assim pra investir no projeto, a saída foi chamar os russos, que fazendo as contas, viram ser mais jogo dividir os custos com os ianques do que manter a MIR ou construir sua própria nova estação, com blackjack e prostitutas.

Estação Espacial Mir (Crédito: NASA)

O destino da MIR estava selado, ela seria descomissionada, mas para evitar os problemas que os americanos tiveram com o Skylab, planejaram uma reentrada controlada.

Lançado em 1973, o Skylab era uma estação espacial construída usando um tanque de combustível de um Saturno V, e com 25 metros de comprimento e pesando 76 toneladas, era bem grandinho.

Desde o lançamento o Skylab apresentou uma série de defeitos, missões de resgate conseguiram quase por milagre salvar a estação, que no final só foi usada por nove astronautas, em três missões separadas, sendo abandonada em 1974, após ter sua órbita elevada para um perigeu de 433Km, que deveria mantê-la no espaço até o começo dos Anos 80.

Sim, aquilo que parece uma lona é parte das gambiarras usadas pra salvar o Skylab (Crédito: NASA)

Só que o Sol tinha outros planos. Atividade solar anormal aqueceu a atmosfera terrestre, aumentando sua densidade o suficiente para o arrasto aerodinâmico afetar o Skylab mais que o normal, fazendo com que sua altitude decaísse, o que o colocava em áreas mais densas, com mais arrasto e…

Planos foram pensados para salvar a estação, mas os planos dependiam do Ônibus Espacial para reposicionar o Skylab em 1978, só que o Ônibus Espacial só voaria em 1981.

O jeito foi ver a estação se esfarelar na reentrada, com o mundo inteiro acompanhando, boa parte das pessoas em pânico. A mídia fez concursos para quem conseguisse fragmentos do Skylab, no Brasil o Fantástico chegou a mostrar um pedaço de metal retorcido em Copacabana com um cartaz de papelão “pedaço do Skylab”. Bobagem, claro. A reentrada foi sobre o Pacífico, mais precisamente sobre a Austrália, que foi bombardeada por fragmentos, mas ninguém se feriu ou foi atingido.

Alguns pedaços eram bem grandinhos (Crédito: reprodução internet)

Uma prefeitura até chegou a mandar para a NASA uma multa por sujar a cidade.

A MIR, com 129 toneladas e 31 metros era bem maior, e descontrolada poderia causar danos, na improvável possibilidade de atingir alguém ou alguma coisa. Para evitar isso os russos mandaram uma nave Progress um mês antes, para com seus motores ajustar a órbita da MIR, para que ela atingisse o Oceano Pacífico.

Escaldadas pelo Skylab, as pessoas ficaram, claro, receosas de algo dar errado e a estação russa cair onde não devia.

Entra na brincadeira o Taco Bell.

A cadeia de lanchonetes resolveu embarcar no hype, e após consultar alguns cientistas, entendeu que as chances da MIR, mesmo descontrolada atingir algo específico eram muito, muito pequenas. A Terra é um planeta muito grande e a MIR é uma estação muito pequena.

Com base nas probabilidades, eles instalaram um alvo na costa da Austrália:

No taco for you! (Crédito: Taco Bell)

A condição era simples: caso algum pedaço da MIR atingisse o alvo, o Taco Bell daria um taco grátis, de presente para cada cidadão nos Estados Unidos. Em valores de hoje isso custaria só em tacos, quase US$400 milhões.

Reza a lenda que a Taco Bell fez uma apólice de seguro para se proteger, afinal de contas a gente pode acreditar em probabilidade, mas também acredita em Murphy.

No final o seguro não foi necessário, e no dia 23 de março de 2001 a estação espacial russa fez seu mergulho final na atmosfera, desintegrando-se perto de Fiji, no Pacífico Sul.

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